Os bichos, os seus mistérios e a ignorância humana



Tenho uma gatinha de aproximadamente três aninhos. É minha companheirinha, uma gracinha, brava como uma jaguatirica. Seu nome é Nina. As marcas de seus delicados dentes e unhas estão nas minhas pernas e braços e não há satisfação comparável aquela que eu sinto quando chego em casa, abro a porta e a encontro com olhos arregalados e um linguajar que só ela entende, mas que me faz sentir 100 vezes mais importante e feliz.

Até três anos atrás eu odiava gatos. Talvez essa não seja a expressão correta para se falar de um animalzinho, então, eu não gostava muito de gatos. E apesar de ter degolado acidentalmente um cachorrinho quando eu ainda mal sabia falar – foi um crime culposo – eu acho que gosto mais de bichos do que de gente. Ao menos das atitudes da maioria das gentes.

Ontem, enquanto preparava meu almoço, estava fazendo umas pesquisas na internet (faço mil coisas ao mesmo tempo). Sob a cadeira tem um tapete macio e gosto de ficar descalça nele, então sempre tiro os chinelos quando sento aqui. Se eu me sento no sofá a Nina logo aparece, se vou para o banho ou ela entra no banheiro ou fica me esperando na porta, se eu sento na frente do computador em baixo da cadeira estará ela (como agora). Isso quando não resolve passar sobre as teclas no notebook para chamar à atenção e requerer um pouco de carinho que ela, arisca que só, nem sempre gosta de receber. Enfim, tirei os chinelos como sempre e a Nina passou uma das patinhas pelo meu calçado e assim ficou “calçada”. Coração derretido que tenho fiquei com receio de tirá-la e fui de pé no chão para a cozinha por duas vezes. Na terceira vez eu falei, sem tocá-la: “Ô Nina, deixa eu calçar meu chinelo?” Quase não acreditei quando imediatamente ela tirou a patinha de dentro da sandália e me olhou. E por vezes a gente ainda tem a pretensão de pensar que são eles, os animais, que não falam ou entendem a nossa língua.

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