A Casa da Tia Cida



A melhor casa de todos os tempos. Queria fugir para a casa da tia Cida, onde ainda bem pequenina eu só podia nadar na piscina de 1.000 litros e eu tinha medo dos peixinhos desenhandos no fundo azul. Adorava os moranguinhos plantados no fundo da casa onde havia na área uma mesa grandona para tomarmos o café da tarde na claridade do sol fraquinho com direito a deixar bangunça de farelos no chão.


Logo na entrada da big home estava a Brasília do tio Vicente, mas a tia Cida, apesar de não ter CNH, sempre dirigiu melhor que ele. Ela até deixava a mulecada ficar conversando, ou melhor, tagarelando quando era ela quem estava no volante. Passando pela garagem avistava o maior pé de manga do quintalzão e o balanço que me chamava, e ainda me lembro de sua voz. Ai que frio na barriga.
Sempre tinha folhas no quintal e a Dani e o Celo ficavam na briga para saber quem varreria desta vez, com razão, o Celo sempre "esquecia" ou "tinha outros afazeres". Apesar de "ninguém ter paciência comigo" lá era diferente, e não me lembro da Nina algum dia ter ficado impaciente comigo. Ai, e a sopinha que ela fazia de noitinha.
Correndo ao redor da casa era como fugíamos do monstro "Bichota" e esse nome horroroso é uma revelação muito particular. Imaginamos um nome muito medonho para um monstro trash de máscaras com furo nos olhos e lanterna para iluminá-los na noite. Como ríamos. Naquela época eu acreditava que balançar "foguinho" no ar causava o mal do xixi na cama.

Casa da tia Cida é sinônimo de muita brincadeira, muita infância, do medo dos peixinhos desenhados no fundo da piscina até a evolução para as brincadeiras diante do tabuleiro do "Banco Imobiliário"... Babita Camargos, prédios verdes, casas vermelhas, (ou seria o contrário?), dadinhos, Av. Brigadeiro... mais pão francês e leitinho.
A torta de biscoito da tia Cida é a melhor de todas!!! Acabava tão logo era servida. A Dani criou uma peça de teatro para eu e a Tinha. Nossa, como a Tinha era uma bilusquinha de pequenininha. Nossa primeira atuação: 'Em cartaz... "Salame"'. Clap, clap, clap, clap. A Dani sempre cumpria todas as suas obrigações "pra depois a gente poder brincar". Ah como eu gostava de ajudar... só não me lembro se conseguia.
Me lembro até hoje do dia em que a Tinha nasceu, e eu não tinha nem 4 anos. Me lembro da faixa enooooorme e larga na barriga da tia Cida (eu curiosa para ver o corte), lembro do choro de bebê e até de como os móveis estavam distribuídos pela casa. Nunca faltava cama pra gente na casa da tia. As vezes o papai buscava eu e a mamãe à tarde... me lembro do cheiro do fusca. Eu amo cheiro de fusca!
Nossa, e o moço do algodão doce. Filho da puta ele. Mas na época eu não podia chamá-lo assim. Ele não parava de businar no portão da casa da tia enquanto a Tinha não o ouvia e começava a chorar querendo um (uns) algodão doce. O velho faturava com tanta criança em casa e o sacana fazia a mesma coisa todo dia. rsrs
Hoje, quase todos nós "da casa da tia" estamos crescidos, alguns na faculdade, outros já cuidando dos filhos, mas espero que todos tenham a mesma boa lembrança que tenho desse momento da nossa infância. So wonderfull.

Aproveitando o momento de recordação colori este desenho no site da Turma da Mônica. Agora vou sair do PC, pois o Rafa quer colorir um desenho também.

"Batismo de Sangue"


O livro escrito pelo mineiro Frei Betto, conta a história de cinco frades dominicanos que viveram uma história de amor, fé, perseguições e torturas nos anos de ditadura militar. Não necessariamente nesta ordem.
Uma realidade não muito distante de meus 23 verões e infelizmente
presente no passado da vida de alguns que conheço. Me lembro de quando eu era bem novinha e meu pai contava como era a rotina nos anos de repressão...
Filmes baseados em fatos reais tem sempre uma mágica. Sobre a versão cinematográfica do livro ouve quem a considerasse sensacionalista, para mim foi convincente. Assim
como tudo que envolve a arte de contar histórias saber como a obra foi produzida nos faz enxergar um lado bem mais comovente do ocorrido. No site oficial do filme é possível ver o relato dos atores e como vivem hoje alguns dos personagens. Léo Quintão falando sobre a cena de tortura vivida na realidade por Frei Fernando é de arrepiar tanto quanto a cena em si. Pois é, além da supracitado mágica o filme causa um impacto emocional violento por seu recheio de torturas com requintes de crueldade que óbvio, não faltaram.


Na ocasião em que o assisti, ainda no cinema, havia uma moça que chorava tão desesperadamente que me fez acreditar que algum ente querido havia vivido uma história triste na "década do pau de arara" e talvez até mesmo tivesse seu nome e relato nas páginas de algum livro como o "Brasil Nunca Mais" de Paulo Evaristo Arns.

Enquanto os frades e companhia lutavam por um mundo melhor, mais justo, defendendo o direito de expressão o povo brasileiro, hoje não muito diferente, se preocupava com os gols de Pelé e enxergavam nos revolucionários seres rebeldes, sequestradores. É claro, não é de hoje que a imprensa manda na medíocre opinião pública.

Me pergunto qual são os nossos ideais, em que minha geração vai contribuir pela história e talvez num futuro progresso, diferente do estampado na bandeira. Penso o quanto seria menos doloroso para os prisioneiros de Freury se eles mesmos tirassem suas vidas. Havia dificuldade até mesmo nisso. Muitos morreram nas improvisadas salas de torturas levando para o túmulo o nome de seus companheiros idealistas. E hoje curtimos essa falsa liberdade, porém liberta, mas burra como se estivéssemos de mãos atadas para agir quanto as injustiças sociais, crimes impunes, falsa ordem e progresso, violação de direitos humanos (para quem é realmente humano), enfim, cusparadas descaradas nas leis e na bandeira que vivenciamos todos os dias. Talvez realmente estejamos de mãos e pés atados.

Viva a queda da ditadura! Viva a liberdade de expressão! Viva o grito inútil e o blog!

Ah, já adianto que Frei Tito, personagem de Caio Blat, morre no final do filme.

Grupo Corpo




No meu Orkut coloquei alguns vídeos de espetáculos do Grupo Corpo em meus "vídeos" com o seguinte comentário: "Se não fosse o Grupo Corpo, talvez seria necessário algum comentário". Mas aqui, para citá-lo, é impossível não tecer um.

Escrevo então para quem ainda infelizmente não conhece, ou só ouviu falar, para quem gosta de balé ou para quem nunca o viu nessa forma tão Corpo contemporânea de ser. Não, mentira! Não escrevi por isso, escrevi pois já estou sentindo saudades de assistir a mais um espetáculo.

Abusando de nossa cultura brasileira, nosso ritmo, mistura de cores - cores de pele e cores de bandeiras, da junção de danças de quase inúmeros tipos é que a companhia belorizontina viaja parte do mundo mostrando um pouco do que temos de melhor, depois das crianças talvez, a exploração da arte.

"Breu", o espetáculo mais recente, que ganhou composições exclusivas de Lenine, Tom Zé, Milton Nascimento (pra variar) e Arnaldo Antunes, retrata a violência pouco sutil que nos tira o sono.

Os espetáculos do Grupo Corpo, cada um com sua maravilha particular, são emocionantes e sempre deixam saudades. O que podemos pensar sobre dança se mostra no palco do Corpo e você nunca sai do teatro da mesma forma como entrou. Enquanto "Breu" não vem à Grazi - e que venha apenas em forma de arte - vou curtindo alguns vídeos...

O espetáculo "Nazareth", uma homenagem ao compositor erudito Ernesto Nazareth, é de uma graciosidade absurda e me faz lembrar da minha infância quando eu imaginava ter seres humanos em miniaturas dançando para mim de dentro de suas caixinhas de música, tipo as do Castelo Rá-Tim-Bum.

Mas se em todos os espetáculos do Grupo Corpo tudo se casa, nesse se casam mais. Do verniz dos sapados e do salto alto, passando pelos vestidos coloridos até a última dança com final surpreendente e espetacular, Lecuona é o meu preferido. Exalando sensualidade e romantismo com músicas e movimentos que te levam do rir ao chorar, eis uma das danças do espetáculo que me surpreendeu nas três vezes em que o assisti. Simplesmente lindo!