Em defesa dos torturadores.

Li na revista Vesga, digo, Veja desta semana um artigo não assinado e intitulado “Obrigado, Tarso Genro”, no qual o autor fala sobre o abrigo político concedido pelo Ministério da Justiça ao italiano Cesare Battisti (na foto), atitude que a revista considera um ato da “Aristocracia do terror de esquerda”. O pedaço de papel encadernado não poupa críticas ao ministro, principalmente em relação a abertura dos arquivos da ditadura militar, como transcrevo: “Em outubro, ele propôs a revisão da Lei da Anistia com intuito de punir torturadores do regime militar, um surto de revanchismo e inoportunidade(...).”
Achei curioso que para defender torturadores o anônimo fez uso da mesma expressão “revanchismo” que o ministro utilizou em entrevista à revista Caros Amigos, publicada em outubro, quando dizia justamente o contrário. Para a Vesga, digo, Veja estas atitudes fazem parte das “reações ideológicas automáticas do ministro”. Já o ministro Tarso Genro, segundo a entrevista divulgada pela Caros Amigos, afirma: “Não concordo que se deva esquecer. Não se tem nenhum sentido revanchista quando se fala na questão da tortura (…). O que se tem é o desejo de conhecimento de justiça.”
Cesare Battisti foi condenado a prisão perpétua por quatro assassinatos, sem provas periciais e apenas com o testemunho de um ex-colega que agora vive em algum lugar do mundo sob nova identidade.
O mesmo desejo de conhecimento de justiça mencionado pelo ministro é claramente massacrado por muitos, que utilizam do asilo político concedido a um estrangeiro pelo Ministério da Justiça como trunfo para exigir o perdão dos torturadores dos anos mais negros da história do Brasil no século XX.